sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

POR ONDE ANDA CLÁUDIO FREITAS, ALGOZ AVAIANO DE 92? (by blog Memória Avaiana)


Em Dezembro de 1992, Avaí e Brusque se encontraram para a derradeira partida que decidiria o título do campeonato catarinense daquele ano (releia AQUI).

Ao final dos 90 minutos iniciais, o 2 a 1 levou a disputa para a prorrogação. Os avaianos se encheram de esperança, o time partiu para cima, ansiosamente. Ao Brusque restava fechar-se em seu campo e partir para o contra-ataque.

Aos 26 minutos da prorrogação, o Avaí desperdiçou uma nova chance de ataque e a bola sobrou para Cláudio Freitas, livre de marcação, quase ao centro do gramado do Augusto Bauer. O meia pensou rápido e tocou para Weber, que corria à sua esquerda.

Quando Cláudio Freitas tocou para Weber um frio glacial invadiu a alma dos avaianos, como uma espada gelada rasgando nossas carnes. Weber estava livre de marcação, tocou a bola na frente e correu em direção ao gol avaiano, guarnecido apenas por Carlão.

Aquele gelo em nossa alma azurra era o pressentimento do pior, a expressão da angústia, indefinível, pânico, vertigem, obsessão, como diria Lobão. Quando Cláudio Freitas deu aquele passe, sabíamos que tínhamos perdido o jogo e nosso campeonato chegava ao fim.

Como pressentido, Weber correu até a grande área avaiana e chutou. Carlão milagrosamente defendeu o chute à queima roupa, mas sabíamos que nosso destino já estava traçado.

Carlão espalmou a bola nos pés de Cláudio Freitas, que acompanhava a corrida de Weber paralelamente, livre de marcação. 

A bola caiu nos pés de Cláudio Freitas e não havia sequer goleiro. À sua frente, apenas o gol vazio. Bastava chutar e comemorar o título, mas isto não saciaria nosso algoz.

Frio, calculista, inumano, não bastava ao jogador fazer o gol. Ele tinha que ser cruel, dilacerante, perverso. Em milionésimos de segundos, Freitas dominou a bola, esperou Carlão chegar, deu um corte no arqueiro azurra e só não entrou com bola e tudo porque, no momento final, os Deuses da Bola tocaram sua alma bestial, fazendo-o ter humildade em gol. Golaço de placa.

O tempo passou, provavelmente todos aqueles jogadores em campo já se aposentaram, o Brusque guarda em suas instalações a Taça Irmãos Figueiró, oferecida pela FCF e a torcida avaiana quase esqueceu aquela tarde que lhe renderia mais uma estrela em sua constelação.

Duas décadas depois, por onde andará Cláudio Freitas, verdugo de nossa alma alviceleste?

Nascido em Passo Fundo (RS), em 1966, Cláudio Luiz Martha Freitas é sobrinho de Alcindo (ex-Seleção Brasileira) e de Kim (Inter, 59 a 62), filho de Alfeu (Inter, 61 a 63) e irmão de Luíz Cláudio.

No início dos anos 80, foi apontado nas categorias de base do Internacional como craque de futuro brilhante.

No entanto, quando todos esperavam o desabrochar de um craque, surgiu a decepção. Faltava a treinos e jogos dos juniores e até dos profissionais, para onde o técnico Dino Sani o havia requisitado.
O jogador chegou a fugir do Beira-Rio para se esconder em Sapucaia do Sul, onde vivia com sua companheira Nara, que estava grávida. Freitas achava insuficientes os 70 mil mensais pagos pelo Internacional e começou a alimentar ilusões de que o time iria procurá-lo com um contrato ao redor de 500 mil cruzeiros.

Esnobou o Inter para jogar em campos de várzea em troca de 5 mil cruzeiros por domingo, o que mal dava para pagar o aluguel de seu minúsculo apartamento.

Tinha tudo para engrossar a legião dos pequenos mascarados que quase foram craques, mas o interesse do Grêmio pelo seu futebol fez o Inter procurá-lo com uma proposta melhor.

Uma vacilada do Inter, que teria perdido o prazo para renovação do seu contrato, fez com que parasse no Olímpico, onde começou bem, mas seu comportamento extra-campo logo voltou a lhe causar problemas.

Faltava treinos, chegava atrasado, era figurinha constante nas noites de Porto Alegre. Acabou sendo sucessivamente emprestado a times menores. Foi assim que apareceu no Criciúma em 1989 e no Brusque, em 1992, compensando uma barriguinha saliente e uma suposta lentidão com sua canhota habilidosa e suas perigosas cobranças de falta.

Em 1994 retornou ao Olímpico, Felipão lhe deu novas oportunidades na Copa do Brasil, mas logo se perdeu, absorvido pelos problemas extra-campo.

Em 1999 mudou-se para Francisco Beltrão (PR), casou-se novamente e defendeu o time local até pendurar as chuteiras, em 2003.

Em 2011 reapareceu em Passo Fundo (RS) para disputar um Jogo das Estrelas entre jogadores do passado e do presente, dentre os quais Fábio Rochemback e ex-avaianos como George Lucas e Ernestina.
Atualmente Cláudio Freitas ainda vive em Francisco Beltrão onde teria se tornado servente de pedreiro. Há relatos na internet que afirmam que o maior herói da história do Brusque tornou-se álcoolatra e se envolveu num assalto como receptador de objetos roubados de uma igreja Assembléia de Deus, em 2011.

Daquele jogador promessa de craque, restou apenas o frio na alma que todos os avaianos que assistiram a final de 1992 guardam consigo desde que Cláudio Freitas fez o passe para Weber e saiu correndo em direção ao gol de Carlão. Graças à ele, nunca mais serei campeão catarinense de 1992.

Ficha (incompleta) do Jogador:

1980-1985 - Internacional-RS
1985 - Grêmio-RS
1986 - Passo Fundo-RS
1987 - Grêmio-RS
1988 - Grêmio-RS
1989 - Grêmio-RS
1989 - Criciúma-SC
1992-1993 - Brusque-SC
1994 - Grêmio-RS
1995 - Passo Fundo-RS
? - Goiás-GO
? - Brasil de Farroupilha-RS
? - São Borja-RS
? - Santo Ângelo-RS
1999-2003 - Francisco Beltrão-PR

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